sábado, 3 de abril de 2010

Sim, é verdade!

Vós que me conheceis, sabeis bem quão grande é meu apreço pela cultura e produções brasileiras, principalmente a do povo nordestino, vulgo paraíbas; visto que se por minha vontade fosse, essas, extinguir-se-iam sem que lhes fossem sentida qualquer falta. Sabeis, também, que ser algum a humildade com a minha poderia comparar e que mesmo no auge de meus erros (se é que existem) não os poderia eu admitir. Portanto, não digo que errei, não o faço, entretanto encontrei, ou melhor, mostraram-me uma excessão à essa opinião que ora os fiz conhecer, se é que não tinham ciência de tal fato. Para que meu ego não se fira ainda mais digo-vos, para que saibais que não me arrependo, que esse a qual apresentar-vos-ei foi influenciado pelo grande Baudelaire; e esse era um dos maiores seguidores do mestre, como sabeis. Então, não importando, realmente onde, desafortunadamente, ele nasceu o importante é que qualidades de influências não lhe faltou. De quem falo? Ninguém menos que Augusto dos Anjos, paraibano (1884-1914). Gostei, sim de sua obra. E para que o conheceis, segue, pois dois de seus poemas, os que mais gostei, visto que ainda não li nem pequena parte do que escreveu.
A Idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas Cai de incógnitas criptas misteriosas Como as estalactites duma gruta?! Vem da psicogenética e alta luta Do feixe de moléculas nervosas, Que, em desintegrações maravilhosas, Delibera, e depois, quer e executa! Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas do laringe, tísica, tênue, mínima, raquítica... Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra Nomolambo da língua paralítica! Eis o outro...
O Morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." - Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! --- Veis agora o que digo! Embora eu lhes diga, ainda crendo no que no começo deste vos disse. Eis aí uma excessão.